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O que fazer quando uma doutrina ou acontecimento da Igreja parece estranho?

jovem-homem-preocupado-dúvida-confusoMuitos estão falando sobre a decisão da Igreja de não permitir que certas pessoas sejam batizadas. Algumas pessoas que estudam a História da Igreja e das escrituras ficam confusas com alguns acontecimentos, tais como poligamia, matança de criancinhas e restrição das bênçãos do sacerdócio para determinados grupos. Alguns vêem um Deus vingativo no Velho Testamento, e outros um Deus passivo e relativo no Novo Testamento. Muitos questionam a autenticidade do Livro de Mórmon – além, é claro, de procurarem diligentemente algum erro no profeta Joseph Smith. Há muitas perguntas e críticas – mais do que se pode relacionar. Na era da informação nunca foi tão desafiador achar a verdade e permanecer nessa verdade.

Este artigo pretende conceder uma perspectiva diferenciada. Afinal não quero tentar responder agora as diversas perguntas que podem surgir sobre os atos de Deus e de Seus líderes. Não acho que Deus tenha pressa em responder tudo o que queremos saber.

Este artigo tem haver com fé e confiança. Sabe, fé “não é ter um perfeito conhecimento” (Alma 32:26). E confiança significa acreditar em algo ou em alguém tão somente pela fé. Então, meu desejo aqui é transmitir que, apesar de algumas coisas parecerem esquisitas ou questionáveis, é possível ter fé, esperança e caridade – “confiando plenamente nos méritos daquele que é poderoso para salvar” (2 Néfi 31:19) Então aqui vão alguns pensamentos:

  1. Deus não se restringe a razão humana. Todos adoramos a passagem de Isaías que diz: “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor. Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos.” (Isaías 55:8-9). Essa escritura é realmente muito adequada, para diversos tipos de situações que encontramos em nossa vida, especialmente quando os desejos, intenções e propósitos do Senhor diferem do nosso.
  2. Estranho Ato do Senhor. Uma escritura bem menos conhecida da maioria, que também esta em Isaías é a seguinte: “Porque o Senhor se levantará como no monte Perazim, e se irará, como no vale de Gibeom, para fazer a sua obra, a sua estranha obra, e para executar o seu ato, o seu estranho ato.” (Isaías 28:21). [1]  A revelação moderna também trouxe essa expressão “estranho ato do Senhor”. A estranha obra do Senhor, os estranhos atos que realizou e que realizará, tencionam proporcionar um teste no qual o reto será discernido do iníquo (D&C 101:95) e uma maneira pela qual o Senhor poderá derramar seu Espírito sobre toda carne (D&C 95:4). Algo é estranho quando causa espanto, surpresa, indignação, confusão ou maravilha. De fato, estava previsto que o Senhor faria “uma obra maravilhosa e um assombro” nesses últimos dias – e isso faria a sabedoria dos sábios perecer, e o entendimento dos prudentes se esconder (Isaías 29:14). Então se algo na história, doutrina e normas da Igreja ou nos mandamentos e revelações de Deus, pareçam fora de contexto, estranhas ou diferenciadas saiba que isso não é incomum no Evangelho Eterno.
  3. O Senhor quer compartilhar seu conhecimento. Ele não esta obrigado a explicar seus atos nos parâmetros da nossa linguagem e compreensão mortal. Entretanto, Ele é um Deus misericordioso, que fala aos homens com evidente humildade (Éter 12:39). Ele prometeu mais vezes do que alguém poderia contar: se pedirmos com fé Ele responderá nossas perguntas (por exemplo: 3 Néfi 27:29, João 16:24, TJS Marcos 9:45, 3 Néfi 14:8). Ele faz isso, pois é Seu desejo compartilhar tudo o que Ele possui – inclusive Seu conhecimento infinito e eterno (D&C 76:5-10). Mas precisamos ter paciência (Romanos 12:12).
  4. Tempo do Senhor. Falando em paciência, nada mais apropriado que mencionar que o tempo de Deus difere do nosso. Um de nosso profetas disse: “O tempo Dele deve bastar para nós, já que sabemos que Ele deseja somente o que é melhor. (…) A demora do Senhor com frequência parece longa; às vezes dura a vida inteira. Mas ela sempre é planejada para abençoar. Não é preciso haver momentos de solidão, tristeza ou impaciência.” [2]. A compreensão de que receberemos a perspectiva adequada no tempo Dele não apenas nos conforta, mas nos coloca na direção de receber sublimes bênçãos de fé.
  5. Preparar-se para receber os mistérios. Deus não pode concedermos todos os seus mistérios simplesmente porque queremos. Precisamos estar preparados para suportar esse conhecimento e lidar com ele. Deus disse: “Vós sois criancinhas e não podeis suportar todas as coisas agora; é preciso que cresçais em graça e no conhecimento da verdade.” (D&C 50:40). Seria tolo – para não dizer insano – oferecer carne a um bebê recém-nascido, que nem possui dentes! Do mesmo modo, o Senhor nos dá aos poucos: “Darei aos filhos dos homens linha sobre linha, preceito sobre preceito, um pouco aqui e um pouco ali; e abençoados os que dão ouvidos aos meus preceitos e escutam os meus conselhos, porque obterão sabedoria; pois a quem recebe darei mais; e dos que disserem: Temos o suficiente, destes será tirado até mesmo o que tiverem.” (2 Néfi 28:30) [3]. Cabe ao Senhor decidir quando estamos preparados (e isso é, inclusive, um grande gesto de amor): “Porque agora não podem tolerar carne, devem receber leite; portanto, não deverão conhecer estas coisas, para que não pereçam.” (D&C 19:22). O conhecimento traz consigo a responsabilidade. Assim, a forma pela qual utilizamos o conhecimento ou nos conduz a mais luz, verdade e salvação ou a mais trevas e condenação.
  6. Muitas pessoas podem conhecer os mistérios de Deus. Deus não se revela a poucos. Isso é um incentivo para nós, não? Se algumas coisas parecem estranhas no inicio podemos saber que o Espírito Santo ensina a verdade de todas as coisas (Morôni 10:5) – e se comunica de uma maneira inegável com nosso Espírito. O Espírito, porém, só virá se o permitirmos (2 Néfi 33:1). E fazemos isso abrindo o coração ou em outras palavras, guardando os mandamentos (Morôni 4:3). Alma disse: “É dado a muitos conhecer os mistérios de Deus; é-lhes, porém, absolutamente proibido divulgá-los, a não ser a parte de sua palavra que ele concede aos filhos dos homens de acordo com atenção e diligência que lhe dedicam. E, portanto, aquele que endurecer o coração receberá a parte menor da palavra; e o que não endurecer o coração, a ele será dada a parte maior da palavra, até que lhe seja dado conhecer os mistérios de Deus, até que os conheça na sua plenitude. E aos que endurecerem o coração será dada a menor parte da palavra, até que nada saibam a respeito de seus mistérios; e serão então escravizados pelo diabo e levados por sua vontade à destruição. Ora, é isto o que significam as correntes do inferno.” (Alma 12:9-11)
  7. As verdades de Deus são simples, maravilhosas e estão dentro do contexto do Evangelho. Suponha que você receba uma ordem de Deus de sacrificar seu filho. É uma coisa bem estranha. Na verdade é uma ordem assustadora! Mas como Abraão estava disposto a fazer isso? Simples: ele conhecia a fonte da Verdade. Ele não supos que a ordem viera de sua imaginação ou de Satanás. Ele também aprendeu – ainda que não imediatamente, que aquele sacrifício seria à semelhança do Sacrifício do Unigênito de Deus. Verdades profundas, mas simples foram transmitidas. Outro exemplo: por mais estranho que seja pensar que Deus permitiu mil lamanitas convertidos ao Evangelho serem assassinados à sangue frio: a estranheza passa ao nos conectarmos ao Espírito da Verdade, só para concluir que uma tragédia pode se transformar em uma grande maravilha. Eis a lição da história: “E aconteceu que, naquele dia, ao povo de Deus juntaram-se mais do que os que haviam sido mortos; e os que foram mortos eram justos; não temos, portanto, razão para duvidar de que foram salvos. E não havia um homem iníquo entre os que foram mortos; mais de mil, porém, chegaram ao conhecimento da verdade; e assim vemos que o Senhor trabalha de vários modos para salvar seu povo.” (Alma 24:26-27). Na perspectiva divina grandes acontecimentos negativos (na visão do homem natural) – como o Dilúvio, a morte de Cristo e de seus seguidores, a Perseguição, etc – tornaram-se em grandes bênçãos para família de Deus.
  8. Duvidar de nossas duvidas e escolher a fé. Disse o Presidente Dieter F. Uchtdorf : “É natural ter dúvidas — a semente da dúvida sincera, com frequência, brota e amadurece até se tornar uma grande árvore de conhecimento. (…) [Mas] duvidem de suas dúvidas antes de duvidarem de sua fé.” [4] O Elder Neil L. Andersen disse: “A fé em Jesus Cristo é uma dádiva que recebemos do céu quando escolhemos acreditar, quando a buscamos e quando nos apegamos a ela.” [5] Escolha acreditar! Faça perguntas sinceras, acredite que Deus vive e quer responder-te e escolha ter fé. Depois de receber uma resposta e conhecer a Fonte, não duvide!
  9. Satanás quer nossa destruição, mas a verdade pode ser conhecida. O Presidente Dieter F. Uchtdorf também ensinou: “O adversário tem muitas estratégias astutas para impedir os mortais de conhecer a verdade. Ele oferece a crença de que a verdade é relativa; apelando para o nosso senso de tolerância e justiça, ele mantém a verdade real oculta, argumentando que a “verdade” de uma pessoa é tão válida quanto a de qualquer outra. A alguns, ele instiga a crer que há uma verdade absoluta em algum lugar, mas que é impossível conhecê-la. Para os que já abraçaram a verdade, sua principal estratégia é espalhar sementes de dúvida. Por exemplo: ele faz com que muitos membros da Igreja caiam quando descobrem informações sobre a Igreja que parece contradizer o que aprenderam anteriormente. Se vivenciarem um momento assim, lembrem-se de que nesta era da informação há muitos que criam dúvidas sobre tudo e sobre todos, em qualquer época e em qualquer lugar. (…) E sempre é bom ter em mente que o simples fato de algo ter sido impresso, aparecer na Internet, ser frequentemente repetido ou ter um forte grupo de seguidores não transforma isso em verdade. Às vezes alegações ou informações falsas são apresentadas de forma a parecerem muito verossímeis. Contudo, quando se depararem com informações que conflitem com a palavra revelada de Deus, lembrem que os homens cegos da parábola do elefante nunca conseguiam descrever precisamente a verdade completa. (…) Simplesmente não conhecemos todas as coisas — não podemos ver tudo. O que hoje pode parecer contraditório pode ser perfeitamente compreensível se pesquisarmos e recebermos mais informações dignas de confiança. Como vemos por um espelho embaçado, temos que confiar no Senhor, que vê todas as coisas claramente. Sim, nosso mundo está cheio de confusão. Mas no final todas as nossas perguntas serão respondidas e todas as nossas dúvidas substituídas pela certeza. E isso é porque existe uma fonte de verdade que é completa, correta e incorruptível. Essa fonte é nosso infinitamente sábio e onisciente Pai Celestial. Ele conhece a verdade como era, como é e como será. “Ele compreende todas as coisas (…); e ele está acima de todas as coisas e em todas as coisas (…) e ao redor de todas as coisas; e todas as coisas existem por ele e dele.” ” [6]
  10. Orar. Já mencionei acima que guardar os mandamentos e pedir com fé são parte importante de lidar com dúvidas e desafios. Mas quero destacar, por derradeiro, o princípio da oração. Nada substitui o relacionamento pessoal com Deus. Trata-se do dom supremo. Podemos nos achegar ao Senhor do Universo e receber Dele orientação e sabedoria. Se aprenderemos a orar e a ouvir Nosso Deus, tudo estará bem.

Para concluir gostaria de acrescentar que embora Deus possa agir de maneira inesperada e surpreendente, Ele não mente (Tito 1:2) e age de acordo com o que prometeu (Alma 37:17). Assim sendo, quanto mais estudarmos o que Ele disse (e diz) mais compreenderemos o Seu modo de proceder. Se alguém aparecer dizendo ser o Cristo, por exemplo, não iremos dar atenção: pois os santos conhecem Seu Senhor, e conhecem as profecias relativas a Sua Vinda. Saber que Deus é Grande e faz coisas que nos causam espanto e admiração não justifica atentar contra Seus mandamentos, desvirtuar seu Plano ou “virar a mão direita do Senhor para a esquerda” (3 Néfi 29:9).

A medida que vivermos como devemos viver – guardando os mandamentos – a estranha obra de Deus passa a ser compreendida e apreciada – não por alienação – mas por sã consciência. Ademais Ele prometeu: “Pois aqueles que são prudentes e tiverem recebido a verdade e tomado o Santo Espírito por seu guia e não tiverem sido enganados — em verdade vos digo que não serão cortados e lançados no fogo, mas suportarão o dia.” (D&C 45:57). Que possamos, portanto, guardar os mandamentos, mesmo na pressão, na dúvida e na dificuldade – mesmo que algo nos pareça estranho no inicio.

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NOTAS

[1] Nessa passagem Isaías se refere a duas batalhas na qual o resultado foi surpreendente e improvável: em sua primeira batalha como rei de Israel, Davi venceu os poderosos filisteus (I Crônicas 1:11); Josué derrotou os inimigos do povo de Deus – com ajuda de diversos milagres que incluem chuva de pedras e uma alteração na rotação da Terra – de modo que a luz do Sol brilhou por mais tempo, para os propósitos de Deus fossem alcançados (Josué 10, Helamã 12:15).

[2] “Onde esta o pavilhão?“, , Conferência Geral Outubro de 2012.

[3] Um exemplo de um povo que adquiriu muito conhecimento, mas não viveu a altura: os judeus da antiguidade (Jacó 4:14).

[4] “Venham, Juntem-se a Nós“, Conferência Geral Outubro de 2013.

[5] “A fé não é obra do acaso, é uma escolha“, Conferência Geral Outubro de 2015

[6] “O que é a Verdade?“, Devocional do SEI

| Para refletir
Publicado por: Lucas Guerreiro
Escritor, Advogado, Membro da Comissão de Direito e Liberdade Religiosa da OAB/SP, Membro da J. Reuben Clark Law Society São Paulo. Fez Missão em Curitiba - Brasil. Gosta de desenhar, estudar filosofia, fotografar, viajar e assistir series de super-heróis.
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