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Quando Sinto Que Minhas Dúvidas Estão Corroendo Minha Fé

“Isso não é importante para sua salvação”
“Um dia todas as respostas para essas perguntas serão reveladas”
“Pra que se preocupar com isso? Estude apenas fé, arrependimento, etc”

Embora em muitos casos respostas como essas tenham as melhores intenções, é absolutamente certo que tal abordagem quase nunca é eficiente em ajudar membros ou pesquisadores no processo de desenvolvimento de seus testemunhos.

Com o advento da Internet, praticamente toda e qualquer informação está quase sempre a um clique de distância e ao conhecer mais sobre a história da Igreja e o mundo como um todo, é comum adentrar uma área onde certas informações parecem inicialmente contradizer verdades estabelecidas do Evangelho. O resultado seguinte é quase sempre perguntas que quando bem respondidas fortalecem a fé e quando mal ou não respondidas semeiam dúvidas e descrença.

Reconhecendo a importância desse princípio o Elder Ballard em ao menos duas circunstâncias diferentes se posicionou sobre o assunto, afirmando:

“Passados estão os dias em que um estudante perguntava uma questão honesta e o professor respondia, ‘não se preocupe com isso’. Passados estão os dias em que um estudante levantava uma preocupação real e o professor prestava seu testemunho como uma resposta, visando evitar o assunto. Passados estão os dias em que estudantes estavam protegidos de pessoas que atacam a Igreja… Foi apenas uma geração atrás que o acesso de nossos jovens a informações sobre história, doutrina, e práticas se limitavam a materiais publicados pela Igreja. Poucos estudantes tinham contato com interpretações alternativas… Nosso currículo de ensino naquela época, apesar de significativo, não preparou estudantes para os dias atuais, dias estes em que estudantes possuem acesso instantâneo para praticamente qualquer coisa sobre a Igreja de cada ponto de vista possível”

No mês de Janeiro de 2017 o Elder Ballard voltou a tocar no assunto através de seu perfil do Facebook de maneira ainda mais direta:

“Não há absolutamente nada de errado em fazer perguntas ou investigar nossa história, doutrina e práticas. A Restauração começou quando Joseph Smith procurou respostas para suas dúvidas sinceras.

Quando tenho uma dúvida que não consigo responder, procuro aqueles que podem me ajudar, tais como estudiosos e historiadores. Ao ser abençoado pelas informações que eles me fornecem, estou mais preparado para buscar a orientação do Espírito Santo.

Para os que têm dúvidas, eu os convido a procurar seus pais, seus líderes das auxiliares, seus professores da Igreja, incluindo os professores do Seminário e do Instituto, seus bispos e seus presidentes de estaca.

E para aqueles que oferecem respostas eu digo, por favor, não desconsiderem a pergunta. Não diga a ele ou a ela para não se preocupar com a questão. Peço que não duvidem da dedicação da pessoa ao Senhor ou à obra Dele. Em vez disso, ajudem a pessoa a encontrar as respostas para suas dúvidas. Precisamos agir melhor ao responder a perguntas honestas. Embora talvez não sejamos capazes de responder a todas as perguntas sobre o universo ou sobre nossa história, nossas práticas ou nossa doutrina, podemos fornecer muitas respostas aos que são sinceros. Quando não sabemos a resposta, podemos procurá-la juntos — uma busca compartilhada que pode nos aproximar um do outro e de Deus.

É claro que nem sempre conseguiremos encontrar respostas satisfatórias para nossas dúvidas. Nessas ocasiões, é bom lembrar que existe ainda um lugar para a fé na religião. Às vezes, podemos aprender, estudar e saber, mas outras vezes temos que acreditar, confiar e ter esperança.”

A abordagem de Elder Ballard nos ensinam importantes lições sobre as novas tendências a serem implementadas no ensino da Igreja na geração atual.

1. Jamais Ignore ou Menospreze as Dúvidas

Poucas coisas podem ser mais nocivas a um questionador sincero do que ter sua dúvida ignorada ou taxada como “não importante para salvação.” O problema primário dessa abordagem é que ela na maioria dos casos é simplesmente falsa. Cada pessoa, membro ou não, possui uma visão única do mundo. Tal visão foi desenvolvida no decorrer de uma vida e é influenciada por diversos fatores que moldaram seu entendimento para pensar de uma determinada forma.

Talvez para você não exista desafio algum em lidar com alguns aspectos históricos do mundo ou da Igreja. Talvez focalizar todo o tempo estudando apenas os princípios básicos do Evangelho seja suficiente para você. Entretanto, no momento em que presumimos que se uma pergunta não é importante para mim ela não deve ser importante para outras pessoas, cometemos o grande erro de supor que a fé e o testemunho de cada pessoa gira em torno literalmente dos mesmos aspectos, o que certamente não é o caso.

Ao nos depararmos com perguntas desafiadoras, sabendo as respostas ou não, nossa abordagem deve ser sempre pacífica, validando os pontos levantados e demonstrando empatia, que em muitos casos é mais poderosa do que a resposta da pergunta.

2. A Arte de Não Saber

Por outro lado, um outro sentimento comum que muitos instrutores na Igreja podem enfrentar é a falsa noção de que toda pergunta precisa ser respondida na ocasião em que a questão foi levantada. O questionador talvez venha refletindo sobre a questão por muito tempo, enquanto você, instrutor, talvez jamais tenha pensado sobre o assunto.

Em muitas ocasiões na Igreja fui mais fortalecido pelo “eu não sei” de um instrutor do que por uma simples tentativa daquele que ensina em responder algo que não havia sido previamente considerado. Instrutores e professores do Evangelho não possuem a obrigação de saberem todas as respostas. Sua obrigação, entretanto, é conduzir o debate e buscá-las.

Ao se deparar com questões complexas, evite o anseio de prover respostas razas caso não conheça a resposta. Dizer “eu não sei” é um ato nobre. Não saber é o que move o mundo e nos dá forças para buscar conhecimento.

3. Estar Preparados

É natural haver diversas questões que talvez jamais houvéssemos considerado anteriormente. Algumas das questões mais comuns, entretanto, são bem conhecidas e frequentes fontes de dúvidas dentro e fora da Igreja. Alguns dos tópicos mais comuns geralmente incluem poligamia, restrição do Sacerdócio à Afro-descendentes, pedra vidente, Livro de Abraão e assim por diante. A nenhum instrutor da Igreja é requerido conhecer os fundamentos da física quântica ou a estrutura molecular da vida, mas simplesmente que se esforcem para ter um bom fundamento de tópicos que cedo ou tarde se depararão, dentro ou fora da Igreja.

Um bom início de pesquisas que inclui temas básicos e complexos pode ser encontrado na seção de TÓPICOS DO EVANGELHO, no site oficial da Igreja. A continuação dessa preparação será fortalecida por diversos outros materiais, sejam eles SUD ou não. Apenas certifique-se de utilizar informações devidamente documentadas e uma aplicação inteligente de lógica e razão a qualquer fonte.

4. Para Os Que Possuem as Dúvidas

Agora, da mesma forma que existe uma abordagem correta para aquele que recebe a pergunta, há também uma forma correta para aquele que a levanta. Alguns pontos importantes a se ter em mente:

A. Você não é o único a ter dúvidas. Jamais presuma que outras pessoas na Igreja não já percorreram esse caminho ou estiveram no lugar que hoje você se encontra.
B. Em alguns casos o instrutor simplesmente não terá a resposta na ocasião em que você perguntou. Tenha paciência e lembre-se que cada pessoa vê o Evangelho de uma maneira diferente. O que pode ser uma questão intrigante para você, pode ser trivial para a fé de outras pessoas e vice-versa.
C. Não deixe de lado o estudo dos princípios básicos por uma busca interminável por respostas a questões complexas. Isso destruirá a sua fé. Busque complementar estudo do Evangelho com estudo secular.
D. “Colocar na prateleira.” Algumas questões que possa ter são tão velhas como a própria história da humanidade. Áreas de conhecimento como filosofia tem debatido a complexidade de diversos tópicos por milhares de anos, sem uma única resposta final para cada assunto. Em alguns casos, você precisará aprender a viver com algumas dessas dúvidas cujas respostas ainda não são claras ou conhecidas.
E. Jamais esquecer dos “velhos métodos” e refazer a pergunta a Deus em uma oração.

Conclusão

Ao melhorarmos nossa abordagem à perguntas e questões desafiadoras, sejamos nós os questionadores ou instrutores, criaremos na Igreja uma geração mais inteligente e preparada para lidar com outras questões complexas que o mundo diariamente lança sobre nós. Como Elder Ballard citou, o Evangelho existe hoje porque um jovem possuía perguntas e porque possuía um Criador disposto a respondê-las.

| Para refletir
Publicado por: Luiz Botelho
Luiz Botelho serviu na Missão Santa Maria e atualmente mora em Provo-Ut. Estuda Antropologia na Utah Valley University e descobriu na Ciência, História, Filosofia e Teologia sua verdadeira paixão. Atualmente trabalha voluntariamente como Diretor Internacional da FairMormon, é autor do Interpretenefita.com e um dos Diretores da More Good Foundation no Brasil.
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